Seu Canal de Notícias no Cone Sul de Rondônia

Seu Canal de Notícias no Cone Sul de Rondônia

Pages

terça-feira, 30 de novembro de 2010

Uma carta de um colega de Profissão (Jornalista)

Talvez estejam habituados a verem notícias neste blog... mas ao abrir minha caixa de e-mail  (fabianacortezro@gmail.com), deparei-me com a mensagem que lerão; sem pensar duas vezes, logo abrí e lí, tão mais logo, decidi postar para que todos meus amigos jornalistas pudessem ter acesso à ele. Acompanhem à seguir ( mensagem enviada por Ronivaldo Moreira - Jornalista - MTE - 0002744/ES)


COMUNICAÇÃO “SOCIAL”

                É manhã de Domingo na sala de redação. Do lado de fora a chuva fina é um prenuncio da calmaria que vai seguir aquele dia. Pauteiro, repórter, cinegrafista e até o motorista querem uma coisa em comum: Fechar uma matéria e ir embora. Pode ser qualquer coisa, o resgate de um cachorro pelo corpo de bombeiros, a velha e monótona reclamação em algum já conhecido ponto de alagamento. Mas, nada acontece. O telefone parece mudo, nada na internet, nada em lugar nenhum.
                De repente, o silêncio mortal é quebrado pelo barulho estridente do telefone. O pauteiro mal espera chamar a primeira vez. Repórter, cinegrafista, motorista, todos correm pra perto dele. Uma explosão de alegria toma conta da redação, braços agitados para o ar, uma empolgação semelhante à comemoração de um gol à medida que o pauteiro vai fazendo as seguintes perguntas: “Como? Um acidente na avenida principal? Cinco pessoas morreram?”. A matéria perfeita para uma manhã de domingo, a audiência adora ver morte, a história de 5 vidas resumidas em um minuto e meio no noticiário da noite. Nada é tão importante quanto os corpos no chão, nada como chegar em casa antes das 14 horas, sentar-se no sofá e ver como você se saiu diante das câmeras.
                Se você é um repórter factual e é sincero, tenho certeza que alguma vez já se pegou repreendendo a si mesmo por ter, estranhamente, tido a mesma reação da situação hipotética acima. Coisas como esta me fazem pensar se estamos mesmo honrando o sobrenome da nossa profissão – SOCIAL – ou se o único objetivo da comunicação que fazemos é dizer pra todos: Eu estive lá. É a velha pergunta de Ricardo Noblat[1]: Afinal de contas, fazemos jornalismo para nós mesmos ou para a audiência?
                Todo o herói tem seu ponto fraco como o Superman e a criptonita, por exemplo. Vejo que cada um de nós, jornalistas, temos no nosso EU nossa reserva de criptonita, a vilã do nosso talento. Escolhemos meia dúzia de perguntas e achamos que com elas mudaremos o mundo. O que escrevo aqui é uma experiência pessoal com a qual, talvez, você sentado aí na sua sala – tendo certeza que ninguém está por perto – também vá admitir.
                Percebo que ao longo da profissão perdi grandes histórias porque nem ao menos soube fazer o uso dos PORQUÊS. Percebi que é em pequenos detalhes como este que perdemos o valor social da nossa profissão. Quantos de nós chegamos com microfones e câmeras ligadas nas delegacias e apontamos nossas “armas sociais” em direção a alguém que esteja algemado com a pergunta incisiva: “POR QUE você fez isto?”. Queremos uma explicação breve, que caiba em uma única frase, do tipo que nem precise ser editada e que sirva como a declaração do suspeito. Aliás, suspeito que minutos mais tarde estaremos rotulando para a sociedade como: bandido, ladrão, traficante. Antes mesmo de um inquérito ser aberto já temos o veredicto.
                Ah! Se soubéssemos! Se soubéssemos quantos documentários e quantos longas-metragens estes personagens escondem, se soubéssemos como poderíamos mudar suas histórias e como eles mudariam as nossas próprias! Aprendi que o que eles precisam não é de um “POR QUE” separado no início de uma frase com câmeras e microfones ligados, mas, um “PORQUÊ” junto e com acento, precedido de artigo, com microfones e câmeras desligados, uma pergunta que lhes diga: Tenho tempo pra te ouvir, me interesso por sua história.
                Quando usamos o “PORQUÊ”certo vemos o quanto nós também temos culpa. O pai sentado diante da tela vê a importância de gastar mais tempo com seus filhos, o empresário descobre a necessidade de oferecer mais empregos, os líderes políticos percebem a necessidade de mais políticas  sociais. Um “PORQUÊ” que muda tudo. Esta é a comunicação dialética sonhada por Adorno e Horkheimer[2] com valores e implicações sociais.
                Certa ocasião, o exército de Alexandre O Grande estava em batalha quando seus súditos lhe trouxeram um rapaz acusando-o de abandonar covardemente a guerra. Retroceder era uma palavra que não fazia parte do vocábulo de Alexandre. Ele então pegou o rapaz pelo colarinho, lhe deu boas sacudidas e lhe perguntou: “Qual é o seu nome?”. Timidamente o moço respondeu: Alexandre senhor, meu nome é Alexandre. Alexandre O Grande empurrou o rapaz e vociferou: “Muda de nome, ou então, muda de atitude”.
                Sabe colegas, se queremos mesmo manter o sobrenome da nossa profissão temos que mudar de atitude.



[1] Ricardo Noblat – A arte de fazer um jornal diário. Editora Contexto.
[2] Adorno e Horkheimer, Dialética do esclarecimento.

0 comentários:

Postar um comentário